Utilização da análise multivariada para avaliação do crescimento de cordeiros Berganês e cruzados no semiárido nordestino
Utilização da análise multivariada
para avaliação do crescimento de cordeiros Berganês e cruzados no semiárido
nordestino



1 Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife-PE, Brasil. E-mail: renaldovilar.zootecnia@gmail.com;
joaobandeira.neto@hotmail.com; janaina_arandas@hotmail.com;
ffrcarvalho@gmail.com; ribeiromn1@hotmail.com
2 Universidade Federal do Vale
do São Francisco, Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Petrolina-PE,
Brasil. E-mail: laysthayse.as@gmail.com3 Instituto Agronômico de Pernambuco
Petrolina-PE, Brasil. E-mail: paulonogueira@ipa.br
4 Instituto Agronômico de
Pernambuco, Sertânia-PE, Brasil. E-mail: fernando.mesquita@ipa.br

RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi testar
ferramentas de análise multivariada para avaliação do crescimento de cordeiros
Berganês e cruzados no Semiárido Nordestino. O estudo foi feito com base em
medidas biométricas, no início e fim do experimento, em ovinos machos não
castrados pertencentes aos genótipos Berganês (BG), Berganês x Santa Inês
(BSI), Dorper x Berganês (DB) e o grupo controle Dorper x Santa Inês (DSI),
cada grupo genético foi composto por 8 animais. O delineamento utilizado foi o
inteiramente casualizado. Inicialmente, os dados foram submetidos a análise de
correlação de Pearson. Em seguida, realizou-se análise fatorial com base em
componentes principais – (AF), com a finalidade de resumir o conjunto de
variáveis originais em poucos fatores e indicar as variáveis que mais
contribuem para avaliação do crescimento dos animais. A análise discriminante
foi adotada para verificar diferenças entre os grupos genéticos avaliados.
Observou-se correlação significativa (p < 0,01) para a maioria das variáveis
medidas no final do experimento. As características mais importantes para
avaliar o crescimento biométrico de ovinos Berganês e cruzados estão associadas
ao padrão racial e desenvolvimento corporal dos animais, de acordo com a análise
fatorial. Os animais foram classificados em seus respectivos genótipos no fim
do experimento de acordo com a análise discriminante. As técnicas estatísticas
utilizadas nesse estudo foram bastante úteis para entender e diferenciar o
grupo genético Berganês e seus cruzamentos com base em características
biométricas.
Palavras-chave: análise discriminante; análise fatorial;
biometria; cruzamento; ovinos
Use of multivariate analysis to
evaluate the growth of Berganês and crossbreed in the northeastern semiarid
ABSTRACT: The objective of the present study was to test
multivariate tools to evaluate the growth of Berganês and crossbreed in the
Northeastern Semiarid region. Biometric measurements were performed at the
beginning and at the end of the experiment in uncastrated male lambs belonging
to the Berganês (BG), Berganês x Santa Inês (BSI), Dorper x Berganês (DB)
genotypes and the Dorper x Santa Inês (DSI), of eight lambs per genotype. The
design was completely randomized. Data were subjected to Person correlation
analysis. It performed factor analysis based on principal components - (FA), in
order to summarize the original set of variables in a few factors and to
indicate the variables that most contribute to the evaluation of animal growth.
A significant correlation (p < 0.01) was observed for most variables
measured at the end of the experiment. The most important characteristics to
evaluate the biometric growth of Berganês and crossbreed lambs are associated
with the breed pattern and body development of the animals, according to factor
analysis. The lambs were classified in their respective genotypes at the end of
the experiment according to the discriminant analysis. The multivariate
techniques used in this study were handy to understand and differentiate the
Berganês genetic group and its crossbreed based on biometric characteristics.
Key words: discriminant analysis. factor analysis;
biometry; crossbreed; sheep
Introdução
Os ovinos estão distribuídos por todos continentes, entretanto
percebe-se uma maior concentração nos países que estão em desenvolvimento
(Martins et al., 2016). De acordo com a FAO (2016), o Brasil ocupa a 18a
colocação no ranking mundial, e
possui cerca de 18,43 milhões de cabeças de ovinos. Segundo IBGE (2016), a
região que mais contribui com este efetivo é o Nordeste com cerca de 63,05% do
rebanho nacional e o estado de Pernambuco possui o segundo maior rebanho desta
região com aproximadamente 2,48 milhões de cabeças.
A maior parte do rebanho ovino do estado de Pernambuco,
encontra-se no semiárido, típicamente representado pelo município de Dormentes
que concentra cerca de 226,7 mil cabeças, sendo o quarto maior rebanho nacional
(IBGE, 2016) com a economia baseada quase que totalmente na agropecuária. O
surgimento de um ecótipo ovino, denominado Berganês, foi fundamental para
economia do município e das regiões circunvizinhas. Este ecótipo surgiu por
volta da década de 80, oriundo, principalmente, do cruzamento entre as raças
Bergamácia com Santa Inês, mas somente começou a ser estudado a partir do ano
de 2015, quando se percebeu a sua boa adaptação as condições edafoclimáticas do
sertão de Pernambuco, sem perder características produtivas importantes como
ganho de peso e velocidade de crescimento. Portanto, se faz necessário a
realização de estudos, mensurando essas características produtivas.
Para avaliar o crescimento dos animais o peso é um
parametro fundamental (Conrado et al., 2015), porém, a avaliação dessa variável
isoladamente é imprecisa como indicador de crescimento (Owens et al., 1993).
Afolayan et al. (2002) e Gusmão Filho et al. (2009) relataram a existência de correlação
entre o peso do animal e as medidas corporais nas diversas idades.
Dentre as ferramentas utilizadas para mensurar a
produtividade de pequenos ruminantes, a biometria corporal que, quando
analisada juntamente com o peso, permitem uma boa avaliação do desenvolvimento
corporal dos animais (Koritiak et
al., 2012; Yáñez et
al., 2014). Além disso, serve de base para a diferenciação de grupos e/ou
raças, e nesse campo as técnicas de análises multivariadas podem ser bastante
úteis.
Segundo Ferraudo (2005), as análises multivariadas
referem-se a todos os métodos estatísticos que simultaneamente analisam
múltiplas medidas em um mesmo indivíduo e que são inter-relacionadas. Estes
procedimentos estatísticos têm sido muito úteis para análise de crescimento e
perfil fenotípico em pequenos ruminantes (Yakubu et al., 2011; Birteeb et al.,
2013; Mishra et al., 2017) e diferenciação de raças (Cazar, 2003; Dossa et al.,
2007; Arandas et al., 2017). Na espécie ovina, alguns estudos já foram
desenvolvidos com intuito de caracterizar, discriminar e classificar raças
através de medidas biométricas e com base em procedimentos multivariados em
outros países (Birteeb et al., 2013; Mavule et al., 2013; Yakubu, 2013;
Asamoah-Boaheng & Sam, 2016) mas no Brasil estes estudos ainda são bastante
limitados.
Diante disso, o objetivo deste estudo foi utilizar a
análise multivariada para avaliação do perfil fenotípico e do crescimento de
ovinos Berganês e cruzados no semiárido nordestino.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no Instituto Federal do Sertão
Pernambucano, Campus Petrolina/Zona Rural, nas instalações do Setor de Caprinos
e Ovinos no período entre julho a setembro de 2017, sob o protocolo nº 029/2017
aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano. Foram utilizados ovinos
machos não castrados pertencentes aos genótipos Berganês (BG), Berganês x Santa
Inês (BSI), Dorper x Berganês (DB) e o grupo controle Dorper x Santa Inês
(DSI). Cada grupo genético foi composto por 8 animais, com peso médio inicial
de 21,67±2,34 kg e idade média de 4 meses. O período experimental foi de 70
dias, sendo 14 dias de adaptação dos animais as instalações e ao manejo.
Os animais foram pesados no início e fim do experimento
para obtenção do peso inicial e peso final. Também foram tomadas medidas
corporais no início e fim do experimento conforme Figura 1A, Figura 1B, Figura
1C. As medições foram realizadas com auxílio do Hipômetro e fita métrica, e de
acordo com a metodologia recomendada pela FAO (2013).
Durante o período experimental os animais foram alojados em
baias individuais de 2m2, e alimentados com a mesma dieta total.
Na Tabela 1 são apresentados os ingredientes e a composição bromatológica da
dieta utilizada no experimento.
As variáveis morfométricas foram submetidas à análise de
Correlação de Pearson e em seguida realizou-se à análise fatorial com base em
Componentes Principais – (AF), com a finalidade de resumir o conjunto de
variáveis originais em poucos fatores e indicar as variáveis que mais
contribuem para avaliação do crescimento dos animais. Existem alguns métodos de
rotação utilizados na análise fatorial, nesse trabalho foi utilizado a rotação
ortogonal Varimax, que procura dar aos fatores maior potencial de
interpretabilidade. Para seleção dos fatores, foi utilizado o critério de
Kaiser (1960), que seleciona os fatores que possuem autovalor > 1, para
simplificar a variabilidade dos dados. O modelo utilizado na análise foi:
X1 =
a11 1F + a12 2F ++
a1m mF + e1
X2 =
a21 1F + a22 2F ++
a2m mF + e2
Xp =
ap1 1F + ap2 2F ++
apm mF + ep
em que: X1, X2 e
Xp
= variáveis em estudo; a = carga dos fatores; F = fatores comuns não
correlacionados; e
= variáveis com médias 0 e variância 1.
A análise discriminante foi adotada para verificar a
consistência dos grupos genéticos avaliados, permitindo a
CCb -
Comprimento da Cabeça: medida desde o occipital até o lábio inferior. CCh -
Comprimento Chanfro: medida entre a linha imaginaria que une o ângulo interno
dos olhos e o ponto mais rostral da parte nasal. LC - Largura da Cabeça:
medida entre os arcos zigomáticos. TO - Tamanho da Orelha: medida da base da
orelha até a ponta final. AC - Altura de Cernelha: medido desde o solo até o
ponto mais culminantes da região interescapular. AG - Altura de Garupa:
medida desde o solo até o ponto mais culminante da região sacral. CC -
Comprimento Corporal: medida da articulação da escápula-humeral até a
extremidade posterior do ísquio. CT - Circunferência Torácica: medida que
parte do ponto de declividade da região interescapular, envolvendo toda
região torácica. LP - Largura do Peito: distância entre as faces laterais da
articulação escápulo-umeral. LG - Largura da Garupa: medida entre as
tuberosidades laterais da coxa. LoG -
Longitude da Garupa: medida entre o ponto mais lateral da tuberosidade coxal
e o ponto mais caudal da nádega. CE - Circunferência Escrotal:
medida na
região mediana dos testículos. CCa - Circunferência da Canela: medida do
terço médio da região metacarpiana do membro esquerdo.
Figura 1. Pontos de referência das variáveis
CCb, CCh, LC, TO e LP (A); AC, AG, CC, CT e CCa (B); LG e LoG (C).
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Tabela
1. Composição da dieta e bromatológica dos alimentos utilizados no período
experimental.
1 Fibra em
Detergente Neutro; 2 Fibra em Detergente Ácido; 3 Nutrientes
Digestíveis Totais. * Cada kg contém: Zn 3800 mg, So 147 g, Mn 1300 mg, Co 40
mg, Fe 1800 mg, Cu 590 mg, S 18 g, Se 15 mg, I 80 mg, Cr 20 mg, Mo 300 mg, Ca
120 g, Fl 870 mg e P 87 g. Feno de Capim Buffel (Cenchrus Ciliaris), obtido do capim com 60 dias.
classificação dos indivíduos, com base nas
características morfométricas dos mesmos, e encontrar funções das variáveis observadas
que possam explicar as diferenças entre os grupos genéticos.
O modelo matemático utilizado na análise
foi:
as variávies que caracterizam o padrão
racial (CCh, LC e TO), desenvolvimento corporal (Peso, CT, CC, CE e CCa),
formato do corpo (LP, LG e LoG) e tamanho do corpo (AC e AG) (Tabela 2).
Também, se observou correlação próxima ou acima de 50% entre as variáveis
relacionadas com padrão racial e com o tamanho dos animais. As correlações significativas
ocorreram distribuídas em características ligadas ao biotipo do animal, uma vez
que os animais estavam com pouca idade e o crescimento até então obtido não justificou
presença de alta correlação dessas características com as demais.
Em relação aos coeficientes de correlação de Pearson das
variáveis medidas no fim do experimento, observouse correlação próxima ou acima
50% para maioria das características avaliadas (Tabela 3). Estes resultados
estão de acordo com os relatados por Mavule et al. (2013), Mishra et al. (2017)
e Yakubu (2013), em medidas biométricas de ovinos, onde encontraram valores de
correlação significativos na grande maioria das características biométricas
avaliadas.
Os resultados do presente trabalho indicam a presença de
correlações entre as variáveis avaliadas, o que justifica a utilização de
análises multivariadas.
Por meio da análise fatorial foi possível selecionar cinco e
três fatores que explicaram um percentual de 80,03% e 78,03% da variação total
das variáveis morfométricas avaliadas no início e final do período
experimental, respectivamente (Tabela 4).
em que: D(x) = função discriminante linear
amostral de Fisher: L = estimativa do vetor discriminante; x1
= média amostral da população p1;
x2
= média amostral da população p2.
As análises estatísticas foram realizadas, utilizando-se o
software Statistica 8.0.
Resultados e Discussão
Para as variáveis mensuradas no início do experimento,
observou-se correlação próxima ou acima de 50% entre Mavule et al. (2013),
estudando a estrutura morfométricas de ovinos da raça zulu na África do Sul,
encontraram dois fatores que explicaram 66,85% da variação total para animais
com menos de 15 meses, e quatro fatores que explicaram 62,18% da variação
total, para animais entre 15 e 28 meses de idade. Yakubu et al. (2011)
avaliando características biométricas em ovinos da raça Uda encontraram dois
fatores que explicaram 86,3% da variação total dos dados. Mishra et al. (2017),
caracterizando ovinos da raça Kajali na Índia através de medidas biométricas,
encontraram três fatores que explicaram 68,66% da variação total dos dados.
Tabela
2. Coeficientes de correlação de Pearson das variáveis (V1)
aferidas no início do experimento.
*(p < 0,01); CCb = comprimento de cabeça; CCh = comprimento
do chanfro; LC = largura da cabeça; TO = tamanho da orelha; LP = largura do
peito; LG = largura da garupa; LoG = longitude da garupa; CC = comprimento
corporal; CT = circunferência torácica; CE = circunferência escrotal; CCa =
circunferência da canela; AC = altura de cernelha; AG = altura de garupa.
Tabela
3. Coeficientes de correlação de Pearson das variáveis (V1)
aferidas no fim do experimento.
*(p < 0,01); CCb = comprimento de cabeça; CCh = comprimento
do chanfro; LC = largura da cabeça; TO = tamanho da orelha; LP = largura do
peito; LG = largura da garupa; LoG = longitude da garupa; CC = comprimento
corporal; CT = circunferência torácica; CE = circunferência escrotal; CCa =
circunferência da canela; AC = altura de cernelha; AG = altura de garupa.
Tabela
4. Coeficientes de ponderação dos fatores selecionados destacando (negrito)
as variáveis com maiores autovetores em cada fator.
VAR = variáveis; CCb = comprimento de cabeça; CCh =
comprimento do chanfro; LC = largura da cabeça; TO = tamanho da orelha; LP =
largura do peito; LG = largura da garupa; LoG = longitude da garupa; CC =
comprimento corporal; CT = circunferência torácica; CE = circunferência
escrotal; CCa = circunferência da canela; AC = altura de cernelha; AG = altura
de garupa; li =
autovalores; %VF = porcentagem da variância explicada.
As comunalidades representam a proporção da variância para
cada variável utilizada na análise, ou seja, o quanto determinada variável
contribui para explicar a variância total de fatores considerados (Morrison,
1976). Observa-se que as variáveis Peso e LG apresentaram menores comunalidades
na avaliação do conjunto de características no início e final do experimento,
respectivamente. Ou seja, essas características possuem uma menor contribuição
para explicação da variação total dos fatores quando comparada as demais
variáveis. Pelo seu valor de comunalidade, percebe-se que o Peso contribuiu pouco
para explicação da variação dos fatores no início do experimento, devido ao
fato dos animais estarem bastante homogêneos nesta fase, o que é uma premissa
da pesquisa experimental (Pimentel Gomes, 1999). No entanto, o peso apresentou
alta comunalidade no final do experimento, fase em que os animais estavam
expressando seu potencial produtivo. Quanto a LG, esta é uma medida que
apresenta pouca variação em animais com a mesma faixa de idade, o que pode
explicar sua menor contribuição na explicação da variação dos fatores.
Observou-se também maior comunalidade para a variável AC no
início do experimento. Isso se deve ao fato desta característica apresentar
alto autovetor no primeiro fator. Esse resultado indica a importância do peso e
AC nesse estudo, pois elas apresentam a maior porção da variância compartilhada
com todas as outras variáveis consideradas. A AC está associada ao biotipo do
animal, sendo os genótipos que possuíam o sangue Berganês, puro ou mestiços,
apresentam maiores em AC, ao passo que quanto mais apurado para Berganês maior
a AC.
De maneira geral, todas as variáveis apresentaram valores
de comunalidades aceitáveis, acima de 0,5 de acordo com Hair Jr et al. (2009),
o que sugere um bom ajuste do modelo. As altas comunalidades entre um grupo de
variáveis é um indício de que elas estão linearmente correlacionadas e, por
isso, devem ser incluídas na análise fatorial.
Variáveis medidas no início do experimento
No Fator 1, as variáveis AC, TO e AG apresentaram maiores
autovetores, e este fator explicou 35,79% da variação total dos dados. Para o
Fator 2, as variáveis CC e CE apresentaram maiores autovetores, a variação
total explicada por este fator foi de 15,67%. As variáveis de maior peso no
Fator 3 foram LG e LoG, esse fator explicou 12,33% da variação dos dados. O
Fator 4 representou 8,82 % da variação total, sendo a LC a variável de maior
contribuição para essa variação. A variável que explicou a maior parte da
variação do Fator 5 foi a CCb, e este fator teve uma contribuição de 7,43% de
variação total dos dados. De maneira geral, as variáveis (AC e AG), (CC e CE) e
(LG e LoG) obtidas nos fatores 1, 2 e 3 respectivamente, estão associadas ao
desenvolvimento corporal dos animais. Já as variáveis LC e CCb estão
relacionadas ao padrão racial dos animais, com isso, os Fatores 4 e 5 indicam
as variáveis do grupo racial.
Resultados semelhantes foram encontrados por Mavule et al.
(2013), ao estudarem ovinos adultos da raça Zulu na África do Sul, encontraram
que as variáveis responsáveis pelo desenvolvimento corporal e caracterização
racial foram as que apresentaram maiores autovetores.
Na Figura 2, estão dispostos em plano tridimensional os
três fatores obtido através da dispersão dos escores fatoriais das variáveis
utilizadas no estudo. Um plano fatorial tridimensional é formado para explicar
graficamente a relação das variáveis com os três primeiros fatores
considerados, ou seja, é verificado associação entre variáveis e a relação
dessas a um fator específico. Cargas fatoriais próximas a -1 ou 1 indicam que a
variável influencia fortemente o fator, já cargas próximas de 0 indicam que a
variável tem uma influência fraca no fator.
Observa-se que as variáveis (LP, LoG, Peso, CC e CE) estão
próximas umas das outras e associadas aos fatores que mais contribuíram. Assim
como as variáveis, (LC, CCb, CCh, CT e CCa) e (AG, AC e TO), mostrando uma
ligação entre estas variáveis com os fatores que mais as representam.
Figura
2. Representação fatorial das variáveis aferidas no início do experimento
Variáveis medidas no fim do experimento
No Fator1, as variáveis LP, LoG, CCa e Peso apresentaram
maiores autovetores. A variação explicada por este fator foi de 51,51%. Este
fator é representado por variáveis que definem o desenvolvimento corporal dos
animais.
A variação explicada
pelo Fator 2 foi de 20,09 %, com maior poder de explicação para as variáveis
TO, CCb e CCh que são associadas ao padrão racial dos animais.
O Fator 3 explicou 7,33 % da variação total dos dados com
maior contribuição das variáveis AG e AC. Estas variáveis estão fortemente
ligadas ao porte e tamanho do animal. Mavule et al. (2013), estudando a
caracterização morfológica de ovinos jovens e adultos da raça Zulu na África do
Sul, observaram que variáveis com maior maiores autovetores nos dois primeros
fatores foram as relacionadas ao desenvolvimento corporal dos animais. Por
outro lado, Yakubu et al. (2011), avaliando as características biométricas de
ovinos no sudoeste da Nigéria verificaram que variáveis associadas ao tamanho
do animal foram as mais importantes nos primeiros fatores.
Gusmão Filho et al. (2009) em medidas morfométricas de
ovinos Santa Inês, obtiveram cinco fatores que explicaram 91,19% da variação total
dos dados, sendo o primeiro fator associado à altura do animal, o segundo ao
efeito sexual, o terceiro ao desenvolvimento corporal, o quarto a largura do
peito e o quinto a garupa. Birteeb et al. (2013), realizando medições corporais
para avaliar características fenotípicas de ovinos das raças Djallonke e Sahel,
encontraram dois fatores que explicaram 87,19% da variação total dos dados,
sendo as variáveis que obtiveram maiores autovetores aquelas relacionadas ao
tamanho do animal e largura do animal.
Através do plano tridimensional foi possível observar as
relações existentes entre as variáveis que descrevem o padrão racial (CCb, CCh,
LC e TO), a aproximação entre essas variáveis demostra associação entre elas, e
a relação delas com o fator 2. Também se observou associação entre (CC, CE, PF,
CT, CCa, LG, LP e LoG) que são variáveis que associadas ao desenvolvimento
corporal. As variáveis (AC e AG) representam o porte ou tamanho do animal, e
são fortemente relacionadas entre elas e com o fator 3, no qual tiveram maior
contribuição (Figura 3).
As principais variáveis com maior poder de discriminação no
início de experimento foram (TO, CCa, LG, LC, CE, CCh e AC) (Tabela 5). As
variáveis (TO, LC e CCh) indicam uma diferença na caracterização racial entre
os genótipos. As medidas (CCa e CE) estão discriminando o desenvolvimento
corporal através de circunferências. Já (LG e AC) estão indicando que os
animais são diferentes quanto a forma do corpo e o porte respectivamente.
Para os genótipos BG e DB, 87,5% dos animais pertencentes a
ambos os grupos foram classificados em seu grupo de origem, porém para os
genótipos BSI e DSI, 75% dos animais foram classificados no seu grupo de
origem. Vale salientar que no genótipo BSI existe uma forte participação do
genótipo BG em sua formação, tendo em vista que a raça Santa Inês teve
contribuição genética das mesmas raças que formaram o BG, e além disso o BSI é
oriundo do cruzamento entre o ecótipo Berganês com a raça Santa Inês, e isso
provavelmente aumentou o grau de sangue do genótipo BG no BSI.
Contudo, a idade dos animais pode ter facilitado para essas
possíveis classificações, tendo em vista que por estarem ainda jovens no
período da coleta, alguns dos animais não tinham desenvolvido todas as
características próprias de seu grupo, o que levou a possível classificação em
outro genótipo.
Asamoah-Boaheng
& Sam, (2016) avaliando através de medidas biométricas em ovinos dos
genótipos Djallonke, Sahel e cruzados, identificaram que 34,8% e 11,1% dos
ovinos dos genótipos Djallonke e Sahel, respectivamente, poderiam ser
classificados como cruzados, todavia para o genótipo cruzado 17,2% dos ovinos
poderiam ser classificados como Djallonke.
Na Figura 4 encontra-se a representação gráfica dos
grupos avaliados. Observou-se maior proximidade entre os grupos BG e BSI. Os
demais grupos foram bem definidos e
Figura
4. Representação discriminante de características Figura 3. Representação fatorial das variáveis aferidas no fim
biométricas aferidas no início do experimento nos genótipos do experimento. BG, BSI, DB e DSI.
Tabela
5. Função Linear gerada e percentagem de animais agrupados em cada grupo
genético no início do experimento.
Tabela
6. Função Linear gerada e percentagem de animais agrupados em cada grupo
genético no final do experimento.
distantes, o que reflete as classificações
corretas obtidas, cujos percentuais estão indicados na Tabela 5.
Na fase final do experimento, observa-se que todos os
animais foram classificados corretamente em seus respectivos genótipos (Tabela
6). Esse fato pode ser explicado pelo avanço na idade dos animais, cuja
maturidade permitiu que esses apresentassem características próprias de seu genótipo
e distintas dos demais. Observou-se que as variáveis (TO, CT, LG, AC, CCa, CC,
LoG e CCh) foram as mais importantes para diferenciar os grupos genéticos
estudados. As variáveis TO e CCh são relacionadas ao padrão racial, as
variáveis LG e LoG são as que discriminam a forma do corpo e, a variável AC tem
grande contribuição na discriminação da forma do corpo nos diferentes
genótipos.
Observou-se maior distância entre o grupos Berganês (BG)
com os cruzados de Dorper com Santa Inês (DSI), devido serem os grupos de maior
diferenciação genética (Figura 5). Os demais grupos se aproximam mais do grupo
BG, o que era esperado, devido a maior participação do genótipo BG na formação
dos demais.
Figura
5. Representação discriminante de características biométricas aferidas no
fim do experimento nos genótipos BG, BSI, DB e DSI.
Conclusão
As características biométricas, avaliadas sob a perspectiva
multivariada foram eficientes para definir o perfil fenotípico do grupo
genético Berganês e diferenciá-lo dos cruzados.
As variáveis mais importantes para caracterizar os
genótipos avaliados através da análise fatorial estão associadas ao padrão
racial e desenvolvimento corporal dos animais. A análise discriminante indicou
que o grupo genético Berganês apresenta desenvolvimento corporal distinto dos
cruzados.
Literatura Citada
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