Petrolina se torna a primeira cidade do estado a tornar a manta caprina e ovina patrimônio cultural e imaterial em Pernambuco
Petrolina, maior cidade da região, deu essa importância a sua cadeia produtiva da caprinovinocultura e nesta quinta-feira, 11, teve aprovado em sessão da Câmara de Vereadores, a manta caprina e ovina como patrimônio cultural e imaterial do município. A lei será a primeira em nível municipal entre todas as cidades de Pernambuco. A proposta é da vereadora Maria Elena de Alencar e teve total apoio dos parlamentares petrolinenses.
O presidente da Câmara, vereador Osório Siqueira, PSB, disse que o poder legislativo presencia um momento histórico e um importante avanço na cultura da caprinovinocultura local, agregando valor a toda a cadeia produtiva de Petrolina.
“Esse projeto é de grande importância e com essa aprovação, levará a nossa cultura da manta caprina, da carne de bode, conhecido em todo o País. Isso vem dá um maior incentivo aos criadores, organiza a cadeia que conta com mais de mil criatórios”, disse o presidente Osório Siqueira.

A vereadora Maria Elena de Alencar, PRTB, que apresentou a proposta após se reunir com a Embrapa e todos os segmentos ligados ao segmento da caprinovinocultura local, avaliou o momento como de grande importância regional e comercial para fazer a manta caprina de Petrolina alcançar novos mercados e ir cada vez mais longe.


Petrolina sai na frente no Nordeste em tornar a manta caprina patrimônio. O zootecnista do Instituto Federal Sertão Pernambucano (IF-Sertão), João Bandeira, avalia que ao aprovar a lei, a cidade dá um passo importante para facilitar a comercialização da manta no restante do estado e no resto do País.
“Nós temos uma capacidade ociosa no abatedouro de Rajada, apenas mil animais, temos capacidade para muito mais. Estamos aguardando a liberação da agência da vigilância sanitária para que esses cortes especiais cheguem ao mercado consumidor. Essa lei vai agregar valor a isso”, frisou o especialista.
O idealizador de todo o movimento que originou na lei aprovada, tornando a mata caprina patrimônio imaterial e cultural de Petrolina, o engenheiro agrônomo Cândido Roberto, disse que essa é uma conquista e representa a independência do produtor local. Cândido administra o abatedouro de Rajada, distrito de Petrolina, através da associação comunitária dos produtores e criadores de Rajada.
“Com o abatedouro já melhoramos em 20% o preço na cadeia. Então a partir dessa marca, vamos continuar a remunerar melhor nosso produtor”, frisou Cândido.
Maria do Carmo Freiras, gerente regional da Adagro (Agência de Defesa Agropecuária de Petrolina), sinalizou que a aprovação da lei da manta caprina se tornando patrimônio imaterial e cultural, chega como passo importante para a agilização das certificações necessárias para a comercialização e consumo seguro da carne de corte especial.
“Se ganha em importância, pois chega com o aval de todos os órgãos, do legislativo e do município para avançar nessa certificação”, considerou.
Pesquisador da Embrapa, Tadeu Votolini, acredita ser essa uma coquista que vem agregar valor e tornar a carne ainda mais valorizada no mercado. “A Embrapa se reuniu com varas instituições, técnicos, produtores, comerciantes para que a justificativa fosse acatada na Câmara e, assim, tornar a manta caprina patrimônio de Petrolina. Agora é importante a pro moição de ações que ampliem essa visibilidade como a que ocorreu hoje”, comentou o pesquisador.
A manta consiste em uma técnica de corte, salga e secagem da carcaça dos animais, amadurecida há várias gerações, que resulta em uma carne macia e quase integralmente desossada. Por sua importância, e por ser um dos produtos mais emblemáticos da gastronomia e do comércio da região, um grupo interinstitucional de trabalho, liderado pela Embrapa Semiárido, articulou junto aos parlamentares a proposta para oficializar o produto como patrimônio do município.
Durante a sessão de votação, os parlamentares destacaram que este reconhecimento é um passo importante no desenvolvimento da cadeia produtiva de Petrolina, sendo capaz de aumentar a produtividade e gerar renda, além de fortalecer o comércio, a gastronomia e o turismo da região.
Desenvolvimento – De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2017, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a soma dos rebanhos de ovinos e caprinos de Petrolina totaliza cerca de 412 mil cabeças, sendo 172 mil (41,7%) de bodes e cabras e 240 mil (58,3%) de carneiros e ovelhas. A cidade ainda é um dos principais centros consumidores dessas carnes no país.
Além do consumo da manta assada na brasa – o tradicional “bode assado” – servido em diversos restaurantes da cidade, essa carne também é comercializada em feiras livres, supermercados e açougues. De acordo com Tadeu Voltolini, pesquisador da Embrapa Semiárido, a proposta valoriza o produto local e é capaz de beneficiar fornecedores de insumos, produtores rurais, abatedouros, processadores e distribuidores, casas de carne e outros.
“O projeto movimenta toda uma cadeia produtiva e favorece também o turismo. O visitante vem para a cidade, sabe que aqui tem uma carne de qualidade, vai querer provar e compartilhar essa experiência com outros possíveis visitantes. A manta acaba se tornando um instrumento de desenvolvimento regional”, avalia.
Benedito da Silva, criador de ovinos do distrito de Caroá, em Petrolina, acredita que um dos pontos positivos da proposta é o aumento na produção da manta para atender às demandas do mercado local. “Isso vai gerar uma expectativa do consumidor em querer experimentar o produto, pela qualidade e agora por ser um patrimônio da cidade. Consequentemente vamos precisar produzir mais e comercializar uma quantidade maior da manta”, comenta.
Segundo Tadeu Voltolini, 12% da população brasileira não conhece a carne ovina e a divulgação de produtos diferenciados, a exemplo da manta, deve agregar ainda mais valor à carne e contribuir para o aumento do seu consumo. “A partir de agora é importante o apoio às ações de fortalecimento da manta. Quanto mais nós trabalharmos essa marca, mais benefícios o município vai ter”, destaca.
Para a vereadora Maria Helena de Alencar, uma das autoras do projeto, o próximo passo é articular junto a lideranças políticas as isenções para que o transporte da mercadoria possa ser liberado para outros destinos no Brasil. “Já temos a liberação municipal, agora partirmos para buscar resolver a questão junto ao Estado e à Federação”, salienta.
Parcerias – O pesquisador Tadeu Voltolini destaca que o grupo de trabalho deve desenvolver novas ações para divulgar e fortalecer a marca. “O projeto continua com discussões de novas propostas e atividades para otimizar outras questões, a fim de que se desenvolva um produto diferenciado”, reforça.
Outra ação a ser estudada sobre a manta de Petrolina é o planejamento para a defesa do registro de indicação geográfica, para que o produto possa ganhar uma espécie de selo de qualidade e exclusividade. “O que propomos é criar um produto diferenciado, assim como acontece com a cachaça de Salinas e o queijo da Serra da Canastra, por exemplo”, destaca Tadeu.
No grupo de trabalho, estão envolvidos representantes da Embrapa Semiárido, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (ADAGRO-PE), Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Vigilância Sanitária, associações de criadores, técnicos e produtores locais.
Patrimônio – Um patrimônio cultural representa o conjunto de bens materiais e práticas culturais que se destacam no ambiente e nas manifestações populares. Ele pode ser considerado como tangível ou material – quando se refere a objetos concretos –, ou intangível ou imaterial – quando se refere aos conhecimentos, às técnicas, ao saber fazer, às manifestações culturais, às representações e histórias populares e aos usos e costumes de um povo. O patrimônio cultural inclui tudo aquilo que as pessoas consideram ser mais importante, mais representativo da sua identidade, da sua história ou da sua cultura.
Fonte: Blog do Banana e Núcleo de Comunicação Organizacional/Embrapa Petrolina/PE